A enxaqueca não é só uma dor de cabeça. Ela é uma doença neurológica, genética e crônica. Apesar de a cefaleia ser o principal sintoma da enxaqueca, outros sintomas são muito comuns e podem ser também importantes como sensibilidade à luz, cheiros, barulho, náuseas, vômitos, sintomas visuais, formigamento e dormências no corpo (as auras da enxaqueca), tonturas, sensibilidade a movimentos ou passar mal em viagens de carro, ônibus, barco. Você sabia que existem pessoas que tem auras de enxaqueca e nunca apresentaram cefaleia? Que esses outros sintomas podem acontecer isoladamente e que muitas pessoas os têm em menor grau no dia a dia, mesmo fora da crise de dor de cabeça?
Esses sintomas são todos gerados no cérebro, em diferentes áreas dele, que são mais sensíveis em quem tem enxaqueca. Essa maior vulnerabilidade do cérebro, principalmente se exposto aos já conhecidos provocadores ou gatilhos, ocorre devido a disfunções em vários neurotransmissores como a serotonina, dopamina, noradrenalina e glutamato. Essas substâncias têm um funcionamento diferente em quem tem enxaqueca.
Enfim, hoje já sabemos que a enxaqueca é uma doença de todo o cérebro, onde a tendência genética e o ambiente (gatilhos) interagem o tempo todo e, assim, começam outros problemas.
O cérebro é a máquina de comando do nosso organismo. Ele comanda todas as nossas funções vitais conscientes, como sono, fome, humor, pensamentos e também as que não percebemos como controle da respiração, batimentos cardíacos, pressão arterial e muitas outras. Pessoas com enxaqueca muitas vezes acreditam que têm múltiplas doenças, pois apresentam uma variedade de sintomas que podem ocorrer devido à disfunção química cerebral da enxaqueca. Às doenças que acontecem com mais frequência juntas, e que têm mecanismos causais comuns, chamamos comorbidades.
São comorbidades reconhecidas da enxaqueca:
-Distúrbios psicológicos/psiquiátricos: depressão, ansiedade, síndrome do pânico, transtornos do humor, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), entre outras.
-Distúrbios do sono: insônia, sono não reparador, sonolência diurna, bruxismo, enurese noturna (o urinar na cama das crianças), sonambulismo.
-Déficits cognitivos: dificuldades e concentração e memória.
-Tonturas de vários tipos: a grande maioria das pessoas saudáveis, com menos de 60 anos, que tem tonturas/vertigens em crises recorrentes, ou mesmo tontura contínua, não tem labirintite. A tontura faz parte do quadro da enxaqueca.
– Doenças gastrointestinais: Síndrome do intestino irritável, intestino preso crônico, diarreias frequentes, dores abdominais recorrentes.
– Outras dores: dores cervicais (no pescoço), dor lombar, dores musculares, tendinites, fibromialgia.
Atualmente, também se reconhece que a enxaqueca pode ser um fator de risco para outras doenças. Várias pesquisas recentes comprovaram que pessoas com enxaqueca têm um maior risco de AVC e doenças cardiovasculares, principalmente quem tem enxaqueca com aura, sendo esse risco aumentado se associado a tabagismo e uso de alguns anticoncepcionais hormonais em mulheres. A enxaqueca aparece como fator de risco tão importante quanto a hipertensão arterial, diabetes e obesidade.
Novo estudo publicado em importante revista médica americana concluiu que a enxaqueca pode, a longo prazo, alterar o cérebro permanentemente. Foi encontrada, em exames de ressonância cerebral dos pacientes avaliados, maior frequência de lesões cerebrais, pequenos AVCs e atrofia em algumas áreas cerebrais, ou seja, perda de neurônios. E concluiu que a enxaqueca não é uma doença benigna, como se imaginava.
A enxaqueca não é uma simples dor de cabeça. Tratar a enxaqueca é cuidar do seu cérebro, e consequentemente da sua saúde como um todo.
Fonte: SBC – Sociedade Brasileira de Cefaleias
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